sábado, 8 de agosto de 2015

Quando todos perdemos




Amigas e amigos, nesse domingo veremos mais um capítulo da novela “Polemizar para vender”, financiado pela maior rede midiática desse país. O tema será Criolipólise e se precisasse apostar, diria que será polêmica, mercantilista e desinformante.
Bom, saberemos o resultado concreto na segunda pela manhã, mas quando vejo milhões de leigos, com a visão completamente deturpada por matérias falaciosas, reverberando seus achismos a outros milhões, o presságio não é bom.
Independente do produto que teremos nas mãos nessa segunda-feira é relevante elencarmos algumas questões envolvidas neste tema.
A mais óbvia, certamente, é a baixa (ou nenhuma) profundidade jornalística que acompanhamos nos meios de comunicação, onde mais vale uma polêmica que gere audiência às informações embasadas que realmente informem. E, não somente em matérias sobre saúde e beleza, mas em todas as áreas, seja política, econômica, esportiva, etc... o objetivo é polemizar para entreter.
Ao primeiro olhar, muitos minimizam essa questão, acreditando que a simples mudança de canal resolve o problema, ledo engano. Infelizmente, somos uma nação com pouco olhar crítico, ínfima leitura e altamente condescendente em temas gerais, confundindo pequenos (e alguns maiores) deslizes como parte do cotidiano.
A segunda questão envolvida é a disputa entre as classes profissionais. Ora, mas o que isso tem a ver com o equipamento oferecer ou não resultados??? A resposta é simples: tudo.
Existem muitos profissionais preocupados com os rumos dúbios que os segmentos da beleza e da saúde vivenciam, tenho inclusive o prazer de conhecer muitos deles e acompanhar suas lutas. Contudo, os interesses econômicos se sobressaem sobre quaisquer outros interesses envolvidos e esse segmento não foge à regra. Não quero aqui criticar o conceito dominante, cada um tem a sua opinião sobre o tema, quero apenas traduzir a fotografia, ou para citar a moda, a selfie em que estamos inseridos. Negá-la, além de utópica é uma visão ingênua.
Precisamos entender que a estética é um negócio e como qualquer outro negócio, possui como objetivo principal a lucratividade. E isso não é ruim, pelo contrário, essa visão propicia um maior profissionalismo, maiores investimentos, profissionais mais preparados, resumindo, a estética abandonou seu papel coadjuvante para ser uma das protagonistas na economia mundial.
O problema é que essa mudança, enfatizo, altamente positiva, não foi devidamente acompanhada pelos agentes públicos, tampouco pela legislação e essa incompetência deixou abertas imensas lacunas que estão sendo assumidas por àqueles que detêm o poder, absolutamente sem nenhum critério técnico específico e com isso, vemos um cenário com batalhas incessantes de todas as classes, por uma fatia desse bolo.
Nem preciso dizer (mas digo) que a corda vai estourar em seu ponto mais fraco e essa é a questão. Enquanto muitos perdem tempo tentando encontrar esse ponto, não enxergam que o cenário resultante é traduzido pelo corretíssimo adágio popular “a corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco”, ou seja, essa luta de classes (ou egos) enfraquece sobremaneira o elo vulnerável, não importando qual seja, mas quando ele se romper, toda corrente quebrar-se-á e todos perdem.
Concordo que devemos estabelecer direitos e deveres para o segmento e todos os profissionais envolvidos, mas discordo da forma como tentam nortear esses preceitos, utilizando-se apenas o poder como critério. É de conhecimento público que existem em todas as classes, profissionais e profissionais, e se utilizar de casos pontuais para definir quem é mais preparado para isso ou aquilo é, no mínimo, equivocado. Fica o alerta para, depois da matéria televisiva, não apontarmos o dedo de forma generalizada, para nenhuma classe, mas sim, analisarmos o que podemos fazer para corrigirmos desvios e condutas que enfraquecem o segmento como um todo.
Outra questão que quero abordar é a relação que os equipamentos tem nesse contexto.
Ainda não sei o conteúdo da matéria, mas tenho uma certeza: a mocinha da história, ops, da matéria, será a Anvisa, podem apostar. Mas a questão é: ela merece tal honraria?
Antes de opinarmos, vamos entender o processo de fabricação de equipamentos, aqui no Brasil.
A indústria brasileira de equipamentos eletromédicos e eletroestéticos é uma das mais fortes do mundo. É a mais avançada tecnologicamente de todo o hemisfério sul e mesmo comparando com as potências mundiais no segmento, a distância é mínima.
Talvez muitos desconheçam, mas é muito mais difícil e oneroso, desenvolver um equipamento no Brasil, que na Europa e na Ásia, por exemplo. Para certificar um equipamento, no Brasil, na Europa e na Ásia, eles passam por ensaios em laboratórios credenciados por organismos reguladores (aqui no Brasil, o Inmetro), utilizando como referência as normas da IEC (International Electrotechnical Commission). A diferença muito significativa, é que no Brasil a norma IEC utilizada é específica para produtos eletromédicos, enquanto na Europa e Ásia, a IEC utilizada é para Low Voltage (Baixa Voltagem). Essa IEC é a mesma que certifica um eletrodoméstico, ou seja, apenas valida as grandezas elétricas do produto. Já as normas utilizadas para certificar um produto nacional, possuem variantes específicas para ultrassom, diatermia, eletroestimulação, apenas para citar algumas delas.
Além disso, as empresas brasileiras sofrem auditoria regularmente, para verificação permanente de seus processos fabris.
Após a aprovação da certificação técnica, todos esses documentos do produto seguem para análise da Anvisa, que verifica a compatibilidade do produto com sua destinação, isto é, suas propriedades elétricas com suas indicações de uso. E como todo bom público de sanção, a burocracia é infindável. Mesmo existindo leis que determinam um prazo de 3 meses para análise, não é raro vermos prazos de 15 meses para obtenção do registro.
Mas todo esse processo regulatório, não impede que produtos apresentem falhas em sua utilização e, exatamente por isso, a Anvisa possui um canal de comunicação, o qual pode, e deve, ser utilizado por qualquer cidadão para denunciar possíveis problemas.
É importante também esclarecer duas dúvidas comuns aos profissionais: 1) a Anvisa exige estudos sobre a finalidade do produto? 2) a Anvisa determina quais os profissionais que podem utilizá-lo?
Acreditem, mas a resposta para as duas questões é: mais ou menos... Explico: a Anvisa exige literatura e/ou estudo científico sobre o produto e sua finalidade, mas não de forma sistemática e nem com critérios claros. Por exemplo, uma empresa envia documentos de um aparelho de Alta Frequência para registro e coloca como uma das indicações, o tratamento de úlceras (excelente, por sinal), mas ela não manda literatura comprovando essa indicação, logo terá seu pedido de registro indeferido. Já outra empresa envia documentos para o registro do mesmo aparelho (com outro nome e layout) e coloca indicação apenas para fins estéticos (Oi?). Nesse caso a Anvisa defere o registro sem nenhum questionamento.
Já na segunda dúvida, sobre qual ou quais profissionais podem utilizar o equipamento, posso afirmar que esse tema está em evolução na Anvisa, mas atualmente ainda vale o que o fabricante afirmar e que ele seja um profissional da área, não importando o título. A Anvisa olha com mais criticidade se o produto for indicado para uso comum, ou seja, destinado a leigos. Nesse caso, existe uma análise profunda sobre a compatibilidade do produto com seu público.
Ainda sobre esse tema, fica uma recomendação, leia o manual e caso sua profissão não esteja descrita para uso, converse com o fabricante, pois você estará desprotegida aos olhos da Anvisa e poderá inclusive responder por uso ilegal de recursos, caso alguém a denuncie.
Para resumir a questão dos aparelhos, diria que é um recurso imprescindível, mas que exige pleno conhecimento do profissional. Se você nunca estudou o produto em sua formação, recomendo que busque orientações com seus professores e peça indicações de cursos que possa participar para oferecer segurança aos seus clientes.
A última questão, mas não menos importante, que abordo nesse longo texto são os cursos oferecidos, em especial, cursos sobre aparelhos.
A maioria dos cursos oferece, além do conteúdo teórico, aulas práticas com a técnica oferecida. É financeiramente inviável exigir que eles tenham todos os aparelhos existentes no mercado, dessa forma os cursos apresentam uma, no máximo, duas marcas de aparelhos para a aula prática.
Participo de vários cursos e vejo profissionais desatentos nas apresentações teóricas, aguardando, talvez, um protocolo rápido no momento das aulas práticas. Contudo, como não existem padrões de programação no desenvolvimento dos produtos e com a evolução tecnológica cada vez mais rápida,  eles diferem muito entre si. Como o aprendizado no curso resumiu-se a um protocolo específico no aparelho utilizado, basta ter outro produto em mãos para não saber o que fazer. Recomendo então, quando participarem de cursos, exigirem do ministrante uma abordagem ampla do tema e, se possível, dos muitos produtos existentes.

Acredito que existam ainda outras questões, mas considero as descritas como as mais relevantes para refletirmos e unirmos forças para colocar a Estética no patamar que lhe é de direito.

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