Você já teve dúvidas em qual modelo de ultrassom
adquirir?
As nomenclaturas utilizadas: lipocavitação,
ultracavitação, ultrassom de alta potência, ultrassom cavitacional, etc.,
confundem você?
Se as respostas para as 2 questões forem positivas,
separe alguns minutos do seu tempo e leia um pouco mais.
Responder sim para essas questões é muito mais comum
que você imagina. A propaganda utilizada pelas empresas é muito criativa e com
frequência vemos a utilização de termos que combinem o tratamento com a tecnologia.
Infelizmente, quando essas divulgações limitam-se às nomenclaturas comerciais e
desconsideram as informações técnicas relevantes, o profissional acaba induzido
ao equívoco e muitas vezes decepcionado com o produto.
Apesar da complexidade do tema, apresentarei uma
didática bem simples e direta priorizando nesse post a utilização do ultrassom
na estética. Ao final dessa leitura, você terá informações suficientes para
auxiliá-la em suas decisões de compra, assim como em avaliar o melhor
tratamento para seus clientes.
Separei o assunto em tópicos, para explicar
detalhadamente as principais características do ultrassom.
Cavitação
do Ultrassom
O primeiro passo para entendermos como agem os
diferentes modelos de ultrassom é desmistificar o termo CAVITAÇÃO. Denominar um
modelo de ultrassom como cavitacional é puro pleonasmo, já que TODOS os ultrassons
do mercado são cavitacionais e não é esse adjetivo que os diferenciam.
Por exemplo, se nos depararmos com 2 modelos de US,
sendo um deles intitulado como ULTRASSOM CAVITACIONAL FOCALIZADO e o outro como
ULTRASSOM FOCALIZADO, desconsiderando as grandezas técnicas e analisando
somente a titulação, estamos falando do mesmo tipo de ultrassom.
Enfatizo então, que todo ultrassom É cavitacional,
contudo a amplitude da sua cavitação pode ser (e geralmente é) diferente para
cada modelo, devido às demais características envolvidas como frequência, forma
de emissão e potência.
Em tempo, cavitação é a formação de cavidades (bolhas)
num líquido por efeito de uma redução da pressão total.
Frequência
da Emissão Ultrassônica
A frequência de emissão é uma variável medida em Hz
(Hertz) que significa ciclos por segundo. Por exemplo, citando um ultrassom de
3 MHz (Mega-hertz), temos nesse modelo, o cristal piezoelétrico vibrando
(comprimindo e dilatando) 3.000.000 (3 milhões) de vezes por segundo. É mesmo
muita coisa, muita tecnologia. E por esse motivo que a normatização sugere a
aferição a cada 6 meses (mínimo) e 12 meses (máximo).
Explicada a frequência, o próximo passo é
classificá-las e no ultrassom, conceitualmente, dividimos em 2 grupos: ALTA e
BAIXA.
A linha divisória é a frequência de 100.000 Hz, ou
seja, ultrassons de até 100.000 Hz são classificados como de baixa frequência e
acima disso, US de alta frequência.
É muito comum a publicação de várias grandezas para
definir a frequência de US e por esse motivo, descrevo uma tabela de conversão,
com alguns exemplos, para facilitar a leitura dentre os vários modelos
existentes.
Tabela de conversão
de frequências
Grandeza
|
Frequências
|
||||
Mega-hertz
(MHz)
|
3,0
|
1,0
|
0,95
|
0,08
|
0,04
|
Kilo-hertz
(kHz)
|
3.000
|
1.000
|
950
|
80
|
40
|
Hertz
|
3.000.000
|
1.000.000
|
950.000
|
80.000
|
40.000
|
|
Alta
Frequência
|
Baixa
Frequência
|
Assim,
quando ler 1,0 MHz, nada mais é que 1.000 kHz ou 1.000.000 de Hertz.
Sei que muitas profissionais já sabem, mas nunca é
demais lembrar: nos ultrassons, quanto maior a frequência de emissão, menor sua
profundidade, e vice-versa. Por vezes, lendo números de frequências tão altos,
podemos nos confundir, acreditando que 3.000.000 de Hz alcançaria profundidades
maiores, mas é exatamente o inverso e explicaremos adiante os motivos.
Espero que o conteúdo esteja lhe agradando. Estudo
eletroterapia há mais de 20 anos e sei bem como é complexo, mas vale a pena,
pois quando bem esclarecido, você encontrará muito mais facilidades em sua
utilização, proporcionando maior segurança e resultados para seus clientes.
Forma
de Emissão Ultrassônica
A forma de emissão ultrassônica está relacionada com o
formato físico do transdutor - ou cabeçote como é mais conhecido. Existem
transdutores com formato plano ou côncavo, mas para ter certeza é preciso
verificar cada modelo com o fabricante, pois o transdutor pode ter a face
externa plana e internamente possuir um desenho côncavo alterando assim a
emissão do ultrassom.
A tabela a seguir mostra os vários modelos existentes
Formato Interno
|
Formato Externo
|
Emissão Ultrassônica
|
Plano
|
Plano
|
Divergente
|
Plano
|
Côncavo
|
Focalizada
|
Côncavo
|
Plana
|
Focalizada
|
Apesar de listar na tabela apenas as formas de emissão:
Divergente e Focalizada, existem divulgações de produtos com emissão colimada,
mas como pesquisei bastante e não encontrei publicações sobre essa forma,
prefiro não comentar.
Ilustração das
formas de emissão ultrassônica
Emissão Divergente: essa forma de emissão é considerada tradicional, já
que sua utilização é realizada há décadas. É encontrada nos ultrassons com
transdutores (cabeçotes) com formato plano de emissão, interna e externamente.
Emissão Focalizada: essa forma de emissão, conhecida também como H.I.F.U
que é o acrônimo de High Intensity Focused Ultrasound. É encontrada em
ultrassons com transdutores côncavos, na parte externa ou interna. A
profundidade do ponto focal é definida pelo ângulo/dimensões da parte côncava e
pelas diferenças nessas medidas é que existem aplicadores com distintas
indicações de profundidade.
Profundidade
de Alcance da Emissão Ultrassônica
O poder de profundidade da emissão ultrassônica
relaciona-se com 3 principais características:
1-
Frequência de emissão: Alta ou Baixa
2-
Forma de emissão: Plana ou Focalizada
3-
Potência: em Watts
É importante lembrar que estou considerando um mesmo
meio de propagação, já que diferentes tecidos e suas espessuras e diversos
tipos de agentes acopladores (géis) e suas características, influenciam
diretamente na qualidade da penetração da onda ultrassônica.
Falamos de frequência há pouco e vimos que num ultrassom de 3 MHz existem 3.000.000
de ciclos dentro de um segundo. Para que esses milhões de ciclos caibam dentro de
1 segundo, eles precisam ser comprimidos consideravelmente.
Agora,
se fizermos a mesma análise com um ultrassom de baixa frequência, por exemplo, com
frequência de 40 kHz, precisamos dispor de apenas 40.000 ciclos dentro de 1
segundo. Vejam que essa quantidade de
ciclos dentro do período é 75 vezes menor se compararmos com 3 MHz.
A
seguir, coloquei uma imagem ilustrativa para demonstrar a compressão (F = 3 MHz)
e rarefação (F = 40 kHz), quando dispomos os ciclos num gráfico.
Essas
características - compressão ou rarefação - consequentes da frequência de
emissão, são fundamentais para entendermos o poder de profundidade do ultrassom.
E sabe por quê???
Quando
temos ondas muito comprimidas, logo, alta frequência (acima de 100 kHz), o seu
poder de profundidade é reduzido pela dificuldade de permeação, caracterizado pela
atenuação (enfraquecimento) da onda ultrassônica. Essa atenuação se dá por 2
principais fatores:
1 – Absorção: os
tecidos superiores ao tecido alvo (nesse caso, a camada adiposa) absorvem uma
boa parte da energia gerada pelo ultrassom.
2 – Espalhamento: a onda sônica, ao atritar-se com os
tecidos superiores ao tecido alvo, se espalha, perdendo parte de sua energia.
Com
a baixa frequência (abaixo de 100 kHz) a ocorrência é distinta, pois como as
ondas estão menos comprimidas (rarefeitas) conseguem maior profundidade, já que
a ocorrência de atenuação é bem menor.
Constatamos
então, a importância da frequência de emissão quando analisamos a profundidade
das ondas ultrassônicas. Mas ela não é a única, temos que analisar o formato da
emissão sônica e a potência do aparelho.
Vimos
anteriormente 2 formas de emissão sônica: a divergente, originada por
aplicadores de faces planas e a focalizada, gerada por aparelhos com
aplicadores côncavos.
Na
emissão focalizada toda a potência emitida é direcionada para um único ponto
focal, ampliando consideravelmente sua energia e minimizando os efeitos da
atenuação. Dessa forma a profundidade útil, aquela em que conseguimos depositar
energia suficiente para o processo cavitacional é bem maior, se compararmos com
um ultrassom de emissão plana.
O
último componente dessa equação, mas não menos importante é a potência, isto é,
a quantidade de Watts que o aparelho de ultrassom emite. Temos aparelhos com 7,
10, 20, ..., até 100 Watts disponíveis no mercado e a oferta de potência, por
vezes, supre a atenuação existente na aplicação e proporciona maior poder
cavitacional.
Mas
a definição, se esse ou aquele é mais potente, não é suficiente olhando apenas a
etiqueta ou o manual do aparelho e explico facilmente o motivo. Quando utilizamos
um ultrassom de emissão plana, precisamos considerar a densidade energética, ou
seja, quantos watts por cm² são emitidos pelo aparelho, já que a distribuição
de energia pelo emissor não é uniforme. Para esse cálculo precisamos saber a
potência total em Watts e dividi-la pela ERA, acrônimo de Effective Radiation
Area ou Área Efetiva de Radiação. Vejo com alguma frequência, a confusão entre
o tamanho do aplicador e a ERA. Podemos encontrar ultrassons com 50 cm² de
área, mas com ERA de 5 cm². Portanto, tome cuidado para não confundir.
Já
no ultrassom focalizado, a emissão da potência é direcionada para o ponto
focal, que varia entre 0,5 e 1,5 cm². Notem que o ponto focal é o tamanho do
foco e não a profundidade. É comum, nos ultrassons focalizados, a divulgação da
profundidade de atuação, 1 cm, 2 cm, etc., mas quando essa energia chega ao
limite dessa profundidade, qual o seu tamanho? Esse é o ponto focal.
Exemplificando
a potência, temos:
-
Ultrassom plano com potência de 60 Watts
e ERA de 20 cm² = Densidade energética de 3 W/cm² (60/20), ou seja, se houvesse
uma transmissão plena do aplicador para o tecido, teríamos a incidência de 3
Watts para cada cm² da área de aplicação.
-
Ultrassom focalizado com potência de 30
Watts e ponto focal de 1,5 cm² = Potência no ponto focal de 20 W/cm²
(30/1,5), ou seja, quase 7 vezes a densidade energética de um ultrassom plano,
mesmo com metade da potência total.
Após
a apresentação das principais variáveis do ultrassom, podemos afirmar:
-
Ultrassons de baixa frequência alcançam maior profundidade que os Ultrassons de
alta frequência e por esse motivo possibilitam maior poder cavitacional, o que
é muito desejável. Entretanto, essa “maior profundidade” é bem maior que a
profundidade alvo nas aplicações estéticas, podendo inclusive ultrapassar toda
a dimensão do paciente/cliente. Felizmente, já existem maiores estudos sendo
realizados para melhor orientação do seu uso.
-
Ultrassons Focalizados tem maior capacidade cavitacional que os ultrassons
planos, pois é menos afetado pela atenuação no atrito com outros meios (ar,
gel, tecidos). Entretanto, sua aplicação é através de disparos a cada ponto
focal, o que eleva bastante o tempo de tratamento de grandes áreas e quando não
realizada de forma ortodoxa, apresenta resultados limitados. Também possui uma
limitação de indicações, com foco principal no combate a gordura localizada.
-
Ultrassons planos tem mais limitações de profundidade e com isso, o poder cavitacional
é menor, mas ainda são os mais abrangentes para os tratamentos estéticos. Além de
auxiliar muito no combate a gordura localizada, atuam no processo regenerativo
(POs), na associação com dermocosméticos (fonoforese), redução de hematomas,
apenas para citar algumas. Também é o aparelho que mais permite associações,
algumas delas simultaneamente, como vemos nos equipamentos de Terapia Combinada
e que potencializam muito os resultados.
Bom,
será que conseguimos responder às questões iniciais? Relembrando-as:
-
Você já teve dúvidas em qual modelo de ultrassom adquirir?
Espero que as informações tenha lhe ajudado nessa
decisão e arrisco mais um conselho: numa decisão de compra, elenque os
objetivos a médio e longo prazo. Em regra, o valor desse investimento é alto e
não o limite apenas na indicação do momento. Analise de forma abrangente, tudo
que deseja fazer com ele, para depois sim, investir.
-
As nomenclaturas utilizadas: lipocavitação, ultracavitação, ultrassom de alta
potência, ultrassom cavitacional, etc., confundem você?
Vimos que todo ultrassom é cavitacional, portanto,
desconsidere esse termo nas comparações.
Quando estudamos frequência ultrassônica consideramos
a divisão em alta (acima de 100 kHz) e baixa (abaixo de 100 kHz). Isso é uma convenção
internacional e deve ser seguida por todos os públicos envolvidos.
Já os termos ultracavitação, lipocavitação, ultrassom
de alta potência não possuem uma convenção que os determinem, assim todos podem
usá-los da maneira que acharem melhor. É claro que ninguém vai utilizar a
denominação de alta potência para um ultrassom de 5 watts (assim
espero...rsrs), mas é apenas por bom senso.
Então, procure mais informações sobre o aparelho que
está comprando ou utilizando. Conheça suas grandezas técnicas e decida de posse
dessas informações e não sobre títulos ou empoderamentos comerciais.
Quando presenciar resultados de tratamentos que lhe
chame a atenção e, naturalmente, desejar o produto em seus tratamentos,
verifique suas características e não somente o nome utilizado.
É
importante enfatizar que os resultados do ultrassom dependem, não só das variáveis
descritas, mas de outros fatores como objetivos dos tratamentos, segurança,
confiança na utilização, contraindicações, respostas fisiológicas individuais,
associação com outras técnicas e produtos, além de mais algumas características
técnicas menos comentadas, como razão de pulso, tipos de pulsado, etc.
O
objetivo principal dessa postagem é auxiliá-la no conhecimento de um recurso
tão importante, apresentando, ainda que de forma simplificada mas factual, as
principais variáveis desse produto.
Espero
que tenha gostado.
Até
breve
Think
You
(O
nosso MUITO OBRIGADO é um trocadilho carinhoso com nosso nome, pois nosso maior
agradecimento é sempre PENSARMOS A BELEZA COMO VOCÊ!!!)